CENA   CURTA


Num canto lúgubre,
tece sua teia, a ardilosa aranha.
Trabalha incansável, como a antever uma recompensa.
Instante depois, cai por sobre o lençol de renda, descuidada mariposa.
Debate, em vão, as delicadas asas.
Consumado está, o tento.
Quem antes rodopiava, airosa e intrépida em torno da luz,
descansa agora no leito cuidadosamente preparado.

Vida


Jazida dantes, acobertada pela aconchegante areia
emerge agora a pequenina tartaruga.
Aquele é o momento.
Longo é o percurso até a orla.
Não cabe titubear ante a incontroversa natureza.
Qual corcel, se apresentam as tumultuadas ondas...
E se consuma, então, o sôfrego abraço...
Agora é entre ela e o mar.

Inícios, Meios e Fins

Germina-se absolutamente primaveril, com perspectiva, forma e linguagem poética. Calca-se em sentimentos incertos e explosivos. Cresce previsível, tal como o verão e o inverno. Acomoda-se largo, como a tampa do fosso em concreto. E finalmente, sublima-se em plenitude. Como é sábia a natureza e os seus inícios, meios e fins.

Só hoje

Hoje acordei querendo escrever,
Acho que foi de tanto te ler, de tentar te entender.
Hoje acordei sem querer...e pensei te rever.
Em algum lugar tua lembrança dormia, crescia, à minha revelia.
Caí num sono profundo, sonhei coisas do teu mundo, parei de respirar.
Hoje, eu não quero acordar.

O que sou

Tentando, como Zé Ramalho, encontrar “a chave de mim”, e, como ele, “sem querer saber quem sou, pois tenho medo”, pensei:
Conheço-me mais do que gostaria e menos do que preciso.
Ninguém tanto a si engana, assim tão completamente,
Que não possa reconhecer quando ama
Ou que possa amar eternamente.

Seguindo adiante

Vez ou outra, caminhava pela beira do rio, como se acompanhasse a correnteza. Seguia no curso, mas como se estivesse sem rumo. Sempre pensativo e com olhar distante. Os poucos que o conheciam, sabiam sua história, mas evitavam comentar. Desejavam intimamente o seu bem. Para isso, bastava que se perdoasse.

Endereço Errado

Havia tempo tinha se mudado do bairro, mas ainda alongava o caminho de volta para casa para passar na padaria, cortar o cabelo, comprar frutas e até mesmo jogar dama com os amigos do passado. Após 26 anos no novo lar, sequer conheceu o vizinho de porta. Não se perdoava!

Um tempo, esse

Um pensamento vive a me rondar:
Se, a partir de hoje, eu recomeçasse minha vida adulta
aos setenta anos eu teria vivido quase o mesmo número de anos
que até agora vivi! Não é extraordinário?!
Pensei nisso aos quarenta...e nada fiz.
Hoje, aos cinquenta, torno a pensar...e não sou feliz.

Sete vidas

Adorava velocidade e se arriscava no trânsito! Era bom de garfo e de copo. Choppinho rimava com cigarrinho. Não dispensava um bom “barrufo”! Sexo seguro é como chupar bala com papel. Suas amizades não tinham currículo, mas “Ficha Corrida”.

Só se esqueceu que quem tinha sete vidas era o gato!

Encerrando ciclos

É preciso saber quando uma etapa chega ao final...

Foi frustrante, dolorido, triste, mas tenho que fechar essa porta. Largar o passado. Levantar a cabeça. Dar um passo adiante.

Mais à frente o futuro me espera. 

Qual será? Não sei, mas certamente me reservará um mundo novo, repleto de possibilidades.