Paixão

É roçar suavemente, com a ponta das unhas,
Suas ancas, e senti-la, bem de leve, estremecer.
E ouvir o seu gemido e sentir seu hálito quente
Implorando por um beijo
É desmanchar-se de desejo,
É vibrar intensamente
Penetrar câmara-ardente
Ir sumindo-se lentamente
E morrer morte de vivente

Carcará, o predador...

Carcará ficava de olho, à espreita de uma vítima. A chefa é uma graça, sangue quente e jovem, diria o Conde. Levada ao Parque (da Cidade), violentas paixões, sexo tântrico a sobra das árvores. Sujou, a bandidagem de plantão cobrou extorsão. Policia? Melhor deixar de lado, as expensas do côrno.

Manifesto Setembrino de um Candango

Não enxergo o horizonte de dia. À noite, o vejo alaranjado em chamas. Meu cerrado arde, é maltratado e me maltrata. Minhas narinas sofrem ressecadas e meus olhos irritados. Sinto fadiga nesta seca! Clamo por chuva, céu azul, grama verde e horizonte. Quero que chova até eu não aguentar mais!

Déjà-vu

Admirou aqueles olhos como se já os tivesse visto antes. Não era possível, jamais poderia esquecê-los. De onde os conhecia? Negros como a noite e com o brilho das estrelas, uma expressão forte os envolvia. Desejava admirá-los para sempre. Era sua paixão, mulher da sua vida, mas ainda não sabia.

O dono da asa norte

De carro eu passo pelo balão da 112 norte. Nesse exato momento eu penso nas inúmeras vezes que passei, por esse mesmo chão, de skate, de bicicleta ou mesmo correndo. Todos sabiam quem eu era! Olho para as atuais pessoas e as desconheço. Ah se essas árvores, essas calçadas falassem!

Impulso Psicológico Instintivo Regenerativo

No alto sertão, com o solo castigado e o leito do rio seco, a flor do cacto anuncia a chuva. A esperança inunda o cotidiano sertanejo. As moças sentem-se mais belas, os rapazes mais fortes. O amor floresce, mas como a flor, dura pouco. O suficiente para a vida renovar-se.

Vovó já dizia: "em boca fechada não entra mosca"

Já era motivo de chacota na repartição. Todos sabiam que o Paulão pegava a mulher do chefe. Abusado, todo dia perguntava ao corno: - “a patroa vai bem?” Todos riam às escondidas. Certo dia o Paulão sumiu. Só o chefe sabia do seu paradeiro. Não matou pela traição, mas pela humilhação.

Recomeço

Saiu do fórum carregada de rancor. Vinte anos de casamento ruíram em sofrida separação.

Imersa em memórias, tropeçou, caiu. Uma mão gentil lhe ajudou. Sorriram. Empatia instantânea reforçada por vidas e experiências semelhantes.

Jantar a luz de velas, um beijo, nova e tardia paixão. Puro destino, pois acaso não existe.

Simples Lição

Saiu na jangada com o filho para iniciá-lo nos segredos do mar, do vento, dos cardumes. Quando era ele o pupilo, aprendeu que deveria pescar apenas o necessário para a natureza prover sempre. Infelizmente, a humanidade não aprendeu esta lição. Na jangada com o filho, teme pelo sustento da família.

Éééé campeão!!!!!

Vinte anos de espera, bastava um empate para o Jagunceiros tornar-se campeão. O nome impunha respeito. O revólver do presidente também.

A torcida já comemorava quando, nos acréscimos, um adversário surge livre na área... Foi o pênalti mais escandaloso da década!!!

Precavido, o juiz preferiu apitar o fim da partida!

Cabeça de Vento

Na sua loucura desvairada, andava com o vento, que não era apenas seu guia, mas também seu confidente. A ele contava todas as suas aventuras. Com o vento, fantasiava romances, criava personagens, desvendava conspirações e segredos de Estado. Quando dormia, sonhava com o mundo real, mas tudo era insanamente chato!

O Lado Bom

Acordou leve. Despertou aos poucos e curtiu a preguiça na cama. Parecia até domingo. Ouviu passarinhos, sorriu. Curtindo Beatles, tomou um bom banho e cuidou da barba. Dançou na frente do espelho com espuma no rosto. Sorriu novamente. O mundo estava diferente depois de ontem. Despedido, estava desempregado e aliviado!

Pequeno detalhe

Comandando a máquina, levava seus clientes para cima, para baixo. Ouvia estórias, segredos, tramas, traições, negociatas... Tomava conhecimento de tudo. Seria o homem mais informado do mundo se não fosse por um pequeno detalhe. Nunca sabia TODA a estória. Ou seu início... ou fim. Triste situação a sua... era ascensorista.

Entrevista de Emprego

- Quem foi Lênin?
- Tocava nos Bitles.
- E equitação?
- É quando si paga as dívida.
- O que é plutônio?
- Cachorro du Mickey.
- Fotossíntese?
- Um retratinho 3x4.
- Onde fica o baço?
- Dotô, num umilha! É braço, são dois e fica antes das mão. Num é purqui sô framenguista qui sô inguinorante, né!

Viver intensamente cada dia...

Desperto, banho, café da manhã. Sol forte, dia corrido, trabalho, pausa para o almoço, compromissos, internet, final do expediente. Segue-se academia, musculação, cycling ou ginastica localizada, esforço físico, respiração, coração, suor. Retôrno ao lar, lanche rápido, banho, beijinhos, conversas sobre o dia, cansaço, sono, adormecer. Futuro? Amanhã? Se acordar viverei...

O mundo é lindo, viva o mundo

Fazia sol. O céu azul convidava para um chopp. Todas as gostosas estavam nas praias. Sentei, esperei, no momento certo me aproximei, me apaixonei. Ótimos orgasmos. Lá pelas tantas dormi profundamente. Acordei com o silêncio. Tudo estava destruído. O mundo acabou. Fodeu, não terei para quem contar esta sensacional trepada...

Para quê gritar?

Meu vizinho reza aos brados, clamando por Jesus. Aleluia, aleluia!

Haja pulmão!! Até parece que está ao meu lado!

Talvez não saiba, mas é o coração que deve falar alto. A prece pode e deve ser íntima e silenciosa. Aleluia, aleluia!

Mas para quê gritar? Afinal, Jesus não é surdo!

Reflexão da Insignificância

Numa noite sem lua, admiro o céu estrelado. O brilho de cada estrela iniciou sua jornada há milhares de anos. Umas há mais, outras há menos. Elas desenham um mosaico de diferentes épocas. Aqui deitado, contemplando o infinito passado, encontro minha insignificância presente. Então, para que se preocupar com problemas?

Desceu redonda!

Mais uma vez chegou bêbado em casa. Na bebedeira, ele era sinônimo de violência. Naquele dia, o medo de todos estava estranhamente transformado em gentileza. Na mesa, um copo de cerveja estupidamente gelada. Desceu redonda! Tão redonda que dormiu suave. Acordou com o diabo lhe abrindo as portas do inferno!

Procrastinar

Procrastinar!

Palavra horrorosa!

Horrorosa e poderosa!

Amanhã, o regime começar!

Baita preguiça... para quê caminhar?!

Às críticas, os ouvidos tampar!

Médico? Cadê tempo, agora não vai dar!

Trabalho, nem pensar!

Melhor diversão a estudar!

Problemas? Basta ignorar!

Esquecer as dívidas, fechar os olhos e comprar!

Permanecer no mesmo lugar!

Procrastinar!

Deus lhe pague!

Olhar sofrido, a ferida na perna o impedia andar. Mesmo assim, se deslocava com dificuldade entre os carros, mão estendida, implorando pela caridade. Moeda aqui, outra ali. Deus lhe pague!

Ao fim do dia se afastava para longe dos olhos de todos. Trocava a roupa e voltava para casa... andando!